terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Primeira prova de 2011

Já estou inscrito na minha primeira prova de 2011: Country to Capital, uma corridinha de 45 milhas, que começa num Pub no meio do nada e termina em Londres. O site (para os que quiserem conhecer a prova) é
http://gobeyondultra.co.uk/events/ultra_country_capital
Postei hoje o meu primeiro treino para a prova. Depois vou colocar umas fotos do Buttes Chaumont. Fiz a "volta da cerca", pelo lado de fora, pois não é possível correr por dentro: está ainda cheio de neve, que em parte derreteu, mas virou gelo... Correr no gelo é impossível!

Primeiro treino Country to capial by pfmo at Garmin Connect - Details

Primeiro treino Country to capial by pfmo at Garmin Connect - Details

sábado, 25 de dezembro de 2010

Um ano magnífico


Foi um ano magnífico. Não havia me dado conta, mas na maratona de Lisboa, para fazer o tempo passar, entre uma conversa e outra, fui somando as distâncias das 15 provas feitas no ano, com 42 km ou mais. Que me perdoem meus amigos rápidos, mas prova com menos de 42 km não vale, não acham?
Comecei a rir que nem bobo. Havia ultrapassado os mil km. Não me parece um total desprezível. Acho que vou adotar como divisa “Devagar se chega muito longe”, e me rebatizar de “Paulo, o ultra que não é ligeirinho”, afinal meu tempo médio nas maratonas foi para algo em torno das 5 horas, e fui o último nas 50 milhas de Ohio, na Praias & Trilhas e na Bertioga-Maresias. O meu forte não é a velocidade.

Mas mesmo uma tartaruga como eu tem provas em que se sai bem. Pela primeira vez nos meus dez anos de corredor, ganhei dois troféus, ambos em provas de 24 horas – um individual, e outro em dupla.
Certamente eu não poderia ter ultrapassado a marca mítica dos 1000 km sem muita ajuda. De início quero agradecer a quatro pessoas.
À Fátima, minha esposa, afinal ter paciência para conviver com um viciado em corridas como eu, não é fácil.

Ao Ray, sempre disposto a apoiar mesmo provas insanas como a BR135

Ao Paulo Nogueira e ao Thiago, que me acompanharam em várias provas – com Paulo fiz dupla na Volta à Ilha e nas 24 horas de Campinas, e ele teve a paciência de ser meu pacer na BR 135; com o Thiago, além dos inúmeros longões de sábado, corri todas as maratonas que fiz no Brasil.




























Quero agradecer também a todos os amigos da 100 limites, equipe que está, realmente, ficando cada vez mais sem limites, em especial à Hedy, com quem já corri inúmeras provas, e que vai ano que vem enfrentar a BR135 e correr, junto comigo, o Paulo Freitas e o Ken, a Comrades; e ao Caio, que trocou o tênis pela bicicleta, e me apoiou na Bertioga-Maresias.
Planos para o ano que vem?
Além de algumas provas a que sempre volto, e daquela corridinha lá na África do Sul, de pouco mais de 80 km, de que não sei por que falam tanto, acho que enfim vou enfrentar a soma de todos os meus desejos e todos os meus medos: tenho a pontuação necessária para participar do sorteio do Ultra Trail du Mont-Blanc. Se for sorteado, vou poder descobrir se mesmo um ser completamente incompetente em trilhas como eu pode vencer em 46 horas os 166 km e os 9500 m de desnível dessa prova mítica. Vou precisar de muito apoio!


Provas de 2010
com 42 km ou mais

BR 135                                                               217
Volta à Ilha                                                            75
Maratona de São Paulo                                           42, 195
Bertioga-Maresias 70
Desafrio de Urubici                                                51
Gleteschermarathon                                               42, 195
Königsschlösser
Romantik Marathon                                               42, 195
24 horas do Rio                                                   159
Maratona Pão de Açúcar
de Revezamento                                                     42, 195
Praias & Trilhas                                                     84
Maratona
de Indianápolis                                                       42, 195
50 milhas de Ohio                                                  81
Maratona de Curitiba                                             42, 195
24 horas de Campinas                                           95
Maratona de Lisboa                                              42, 195

TOTAL                                                           1127,365

Acumulando quilômetros...


Acumulando quilômetros...

Um ano que foi aberto com a BR135 teria de ser terminado de uma forma especial. Felizmente, um conjunto de compromissos profissionais e um pouco de sorte permitiram que eu fizesse algo inédito: seis provas, com 42 km ou mais, em um mês e meio, num total de mais de 380 quilômetros.

Tudo começou nos dias 23 e 24 de de outubro. Lembro quando, corredor recente – havia estreado na Volta da Pampulha em setembro de 2001 e feito cinco maratonas em 2002 – li uma reportagem na Contra Relógio sobre a primeira Praias & Trilhas. Sem saber muito bem o que era um costão, disse para mim mesmo: vou lá no ano que vem. Fui, e me apaixonei. Desde de então voltei todos os anos. Totalmente incompetente em trilhas, pior em costões, sou um viciado na prova, que considero uma das mais bonitas do mundo e uma das mais difíceis do Brasil. Se você nunca foi, ainda terá uma chance. Ano que vem, a décima edição pode ser a última. A prova não tem tido os patrocínios que precisaria para poder se manter, e pode acabar. É pena. É uma experiência magnífica. Eu, como sempre, fui apenas para concluir, e, talvez, tentar não ser o último. Completar eu completei , mas terminei ambos os dias como último, acumulando um tempo total de mais de 20 horas! A prova tem sido, para mim, sempre um marco. No ano passado nela completei 408 km em provas oficiais em dois meses. Neste ano, ia tentar um feito um pouco menos extenso, mas acho que igualmente notável: um pouco mais de 380 km em um mês e meio. Os 84 km de Floripa foram o início. Quinze dias depois, graças a um congresso em Columbus, Ohio, eu estaria em outro hemisfério para continuar a aventura.

Desde que ficou certo que iria para os Estados Unidos no primeiro fim de semana de novembro, comecei a procurar um prova. A escolha natural seria a maratona de Nova York, mas quando contatei as agências brasileiras para saber o preço da parte terrestre de um pacote, desisti. Eu não ia pagar uma fortuna só para correr uma maratona. Adoro viajar, mas sou um viajante pão duro, daqueles que procura hotel barato e voos low cost. Bem, o que não falta nos Estados Unidos são maratonas. Logo encontrei a Monumental Indianapolis Marathon, no dia 6 de nomembro. O meu congresso era na quinta, viajaria na sexta, correria no sábado, e ainda conseguiria voltar para Columbus. Mas não estava satisfeito, afinal ir para os USA e correr só uma maratoninha é muito pouco! O problema era que, mesmo tendo encontrado outras no domingo, não conseguiria chegar a tempo. Mas, eu sempre digo, os deuses, como na origem foram olímpicos, gostam dos corredores. Não é que 3 dias antes de embarcar descubro uma prova de 50 milhas, no domingo, e em Columbus! Nunca havia tentado fazer uma maratona num dia e uma ultra no outro. Ia ter a chance de experimentar.


O congresso foi ótimo, e na sexta viajei para Indianápolis. O ônibus era inacreditável: parecia saído da década de 70. Certamente os nossos são infinitamente melhores. Cheguei com quase duas horas de atraso, corri para pegar o meu número. Conversei com os marcadores de ritmo e me inscrevi para correr com o grupo que pretendia terminar a prova em cinco horas. Com uma ultra no domingo, era melhor ser conservador. Fui para o meu hotel. No caminho caiu um pouco de neve.
No sábado acordei em torno das 6, tomei um bom café da manhã, e me equipei para a corrida, sem esquecer, além da minha eterna mochila, de gorro e luvas, pois estava gelado. Cheguei na largada, procurei o grupo das cinco horas, e pouco depois, às oito, largamos. Eu logo percebi que naquela temperatura ia ser impossível correr no ritmo deles. Fui acelerando aos poucos. Depois de quase uma hora, passei por um termômetro: 35°F. Estava explicado o bom desempenho, correr perto de zero graus é maravilhoso. Alguns corredores que notavam a indicação na minhas costas de que pretendia terminar em cinco horas, me diziam que eu estava muito rápido. Eu brincava, dizendo que fazia em cinco horas nos calor tropical do Brasil, mas que naquele frio era muito mais fácil. Passei pela marca da meia maratona em 2 horas e 16 minutos. Estava muito bem. Por duas vezes, nos quilômetros 27 e 35, senti um leve cansaço, que superei andando por 400 metros. Não estava me preocupando com o tempo, deixava o corpo seguir num ritmo forte, mas confortável. Quando terminei a prova em 4 horas e 28 minutos berrei de felicidade. Foi, com certeza, uma das minhas mais confortáveis maratonas, e havia terminado bem antes do que esperava. Na chegada tomei dois copos de uma maravilhosa sopa de feijão – quente e apimentada – e fui para o hotel. 

O Tim, marido de uma das professoras da Ohio State University. a Lúcia, estava em Indianápolis e ia me dar carona até Columbus. Fomos conversando e quando cheguei na casa da Lúcia já estava para começar uma reunião com vários participantes do evento. Fiquei conversando, e tomando ótimos vinhos, até as onze da noite. Fui deitar. No dia seguinte teria de acordar às 4h30, pois a prova iria começar às seis da manhã.
O Tim me levou até a largada. Chegamos cedo, e no lugar não havia nada, além de um pequeno caminhão. Estavam começando a montar o arco de partida/chegada. Na hora pensei: acho que entrei numa fria. Bem, frio estava o tempo – abaixo de zero – mas eu estava enganado sobre a prova. Jamais pensei que fosse possível fazer uma ultramaratona com tão poucos recursos e, por outro lado, com tudo o que um corredor pode precisar. A começar pelos organizadores, super simpáticos, felizes de ter um brasileiro correndo ali, e mais contentes ainda quando contei que havia feito a maratona de Indianápolis no dia anterior. A prova era organizada por uma sociedade que apóia os doentes com Parkinson, e a prova se chamava Delay the Disease 50 miller” A estrutura era bastante simples: ao lado de uma represa, íamos 1,25 milhas para um lado, voltávamos, passávamos pelo arco e íamos 1,25 milhas para o outro. Assim a volta completa tinha 5 milhas, percurso que faríamos dez vezes. No arco havia água, isotônico, gel e várias outras coisas para comer. Na hora do almoço tivemos um sanduíche fantástico. Como dois, completamente esfomeado que estava, Avisei que pretendia terminar perto do tempo limite, de 12 horas. Uma das organizadoras me disse: - Você pode levar um dia inteiro, se precisar, nos esperamos. Não precisaram esperar tanto. Segui um plano bem definido: nas primeiras cinco voltas trotei nos planos e andei nas subidas, andei toda a sexta volta e depois disso fiz o que era possível. Encontrava várias vezes com os outros competidores – éramos bem poucos – ou com outras pessoas que foram correr distâncias menores ou que simplesmente foram na represa caminhar. Fui o último a terminar, levei 11 horas e 45 minutos. Estava muito feliz: havia feito mais de 120 km em dois dias. Agora era relaxar, e me preparar para as provas que viriam.

Voltei para o Brasil, com duas provas agendadas: a maratona de Curitiba – outra prova a que volto todos os anos – e as 24 horas de Campinas, que num acesso de bom senso eu havia resolvido fazer em dupla com o Paulo Nogueira. Logo em seguida viajaria para a Europa, e aproveitaria um congresso para correr a maratona de Lisboa. Duas maratonas e uma ultra em três semanas. É uma boa média, não acham?

Curitiba foi o que pode ser uma maratona em que a temperatura chega a 30 graus. Fui muito devagar. Havia combinado com o Thiago – com quem treinei muitos e muitos longões aos sábados na USP - que faríamos a prova juntos, enquanto eu pudesse manter um ritmo razoável, e que depois ele iria em frente. Por outro lado, havia prometido ao Cláudio – que ia fazer a sua primeira maratona – que assim que acabasse iria buscá-lo. Eu e Thiago fomos juntos até o quilômetro 25. O calor estava aumentando, e eu percebi que ia precisar diminuir mais ainda o meu ritmo. Por mais que dificilmente sinta dores, com certeza os mais de 200 km que eu havia feito desde o fim de outubro cobravam o seu preço, e eu aprendi a escutar o meu corpo. Muitas vezes ele é muito mais sábio que a minha cabeça. Disse para o Thiago ir em frente, e comecei a alternar trote com um pouco de caminhada. Encontrei vários conhecidos, e muitas vezes – trotando ou caminhando – fui conversando com eles. A uns dois quilômetros do final me animei, e voltei a correr de verdade – nada de excepcional, 6 minutos por km é para mim uma boa marca. Terminei sorridente, coloquei a medalha na mochila – já disse, eu não corro sem ela – e fui atrás do Cláudio. Como havia feito a prova muito devagar – havia terminado em 5h8min – nem demorei a encontrá-lo. Fomos juntos até o final. O Thiago já havia terminado há algum tempo, ele fizera a maratona em 4h52min. O que dá conviver com um ultra ensandecido como eu: o Thiago, que só tinha feito uma maratona na vida, fez três neste ano, e o Cláudio, que considerou uma imensa vitória ter feito os 25 km da maratona de São Paulo, menos de seis meses depois terminou Curitiba. Tivemos razão em depois da prova, com outros amigos, ir beber umas cervejas. Merecíamos.
     
Depois do passeio em Curitiba – maratona, em ritmo tranquilo, para mim é algo bem parecido com um passeio-, era chegada a hora de uma prova de outro nível. As 24 horas de Campinas. A minha equipe – a 100 limites- participou em peso, a grande maioria fazendo a prova individualmente. Nunca havia feito uma 24 horas em dupla, e com certeza ninguém melhor para me acompanhar na aventura que o Paulo Nogueira. Já nos conhecemos há algum tempo, funcionamos bem como dupla. Combinamos que faríamos, durante o dia, cerca de uma hora cada, e que à noite, para podermos descansar, revezaríamos a cada duas horas. A prova era em Campinas, em torno da lagoa do Taquaral, com 2.725 m cada volta. Conheço bem Campinas – morei lá muito tempo – e já estava psicologicamente preparado para o calor que deveria fazer. Depois dos zero graus dos Estados Unidos, chegou a hora de enfrentar temperaturas perto dos 40 graus. E enfrentamos. Rapidamente percebemos que funcionava bem se cada um fizesse – dependendo do ritmo em que estivesse – três ou quatro voltas, levando uma hora, ou um pouco a mais. Mantivemos este ritmo de troca durante toda a prova. O treinador da minha equipe, o Ray, estava lá para nos dar apoio, e entre outras coisas ia ver em que lugar estávamos. Rapidamente ficamos em quinto entre as duplas, e ao longo da noite passamos para quarto, e depois para terceiro. Eu sou bom em provas longas – afinal sempre se é bom em alguma coisa – e o Paulo é ainda melhor. Havíamos pensado em tentar fazer 200 km, e chegamos bem perto: eu completei 95km375m, e o Paulo quase dez quilômetros a mais:103km550m. Felizes subimos no pódio. Pela segunda vez, neste ano, ganhei um troféu, de novo numa prova de 24 horas. Da minha equipe, vários também ganharam, vejam o quadro abaixo. 
 

A prova foi no sábado, e na quarta viajei para Paris, onde vou ficar por 3 meses, fazendo um pós-doutorado. Mas, para a minha felicidade, tinha um congresso em Portugal que me permitiu ir para Lisboa no sábado, e lá terminar a minha sequência de provas correndo, no domingo, a maratona. Conheço bem Lisboa, já lá fiquei em vários momentos. Tem um outro gosto você correr numa cidade em que os vários lugares estão relacionados com experiências que lá se viveu. Estava uma temperatura até razoável, 18 graus, mas ventava muito. Para mim a prova não era uma maratona, era o final de um pouco mais que 385 km que eu havia começado em Florianópolis, parte de um ano em que, pela primeira vez, havia ultrapassado os mil quilômetros em provas – veja o texto abaixo. Eu era só felicidade, mesmo quando, por várias vezes, caminhei. Conversando com portugueses e franceses fui em frente, e terminei a prova, já chovendo, em 05:15:42 . Feliz, muito feliz. Agora, no frio parisiense, planejo o ano que vem. Será que consigo manter essa média insana de quase 100 km de provas por mês? Em dezembro do ano que vem vou conseguir responder.







Atletas da 100 limites
no pódio
24 horas de Campinas

Primeira Geral Feminino
MARIA CLAUDIA FERREIRA SOUTO
168km950m

Faixas Etárias

Terceira Faixa 45 a 49
HEDY LAMARR VIEIRA DE ALMEIDA
114km450m

Primeira Faixa 60 a 64
TOMIKO EGUCHI
65.km400m

Quinto Faixa 50 a 54
PAULO DE FREITAS
155km325m