domingo, 14 de agosto de 2011

Dez anos correndo, ou de como o Paulo virou Pul


Há dez anos, numa manhã de outubro, estava no meio de uma pequena multidão. Não, eu não tinha ideia do que ia acontecer. Depois de terminar 30 anos de convivência com o tabaco – uns vinte deles fumando dois maços de cigarros por dia – esperava o começo do que deveria ser a minha tentativa de virar corredor. Já fazia natação, em que sou péssimo ainda hoje, e musculação, que é chato mas necessário. Como poderia saber que ia encontrar um Paulo que nem sabia que existia?
Naquela manhã minha vida começaria a mudar de forma irremediável. Fiz, com paciência e coragem, a Volta da Pampulha, depois de uns dois meses de treino em que comecei mais andando que correndo. Durante a prova eu - que os amigos sabem, “adoro” alongamento – corria 15 minutos e parava para me alongar. Terminei os 18 km em 2h e 20 minutos. Não sei em que momento senti aquela euforia que ainda me acompanha em varias provas, ou quando comecei a me controlar para não chorar. Só sei que quando terminei a prova um outro Paulo tinha nascido. Um que foi batizado, muito depois, de Pul, num dia em que a Dira me chamou de “Paulo, o ultra ligeirinho”. Foi depois das minhas primeiras 24 horas, em que eu estava em êxtase: não podia acreditar que tinha feito mais de 150 km...
Não, eu não sou ligeirinho. Quando eu nasci, naquela Volta da Pampulha, um anjo danado, o chato de um querubim, disse que eu estava predestinado a ser lento assim. Desde o começo a minha falta de velocidade foi marcante. Mas devagar e pacientemente eu fui juntando conquistas: estreia em duas maratonas – a de Verona e de Viena – em dois fins de semana seguidos, cinco maratonas em dois meses em 2004, a CCC em 2009, mais de 1000 km corridos em provas no ano passado – que começou com a BR135. Claro, muitas provas eu não consegui terminar, principalmente por causa do tempo limite. Mas isso faz parte da vida, é preciso testar os limites...
Neste ano completei algumas, entre elas a Comrades, que corri com a Hedy. Prova maravilhosa e – perdoem-me os que pensam diferente– fácil e divertida. Pouco mais de 80 km em 12 horas, com aquela multidão o tempo todo dando apoio, é muito bom.
Agora acabou a brincadeira. Em quinze dias vou enfrentar a prova mais difícil da minha jovem carreira. O Ultra lentinho vai pela segunda vez enfrentar os Alpes franceses. Da primeira, há dois anos, foi a CCC. Agora é o monstro inteiro: o Ultra Tour de Mont Blanc, com os seus 166 km, mais de 9 mil metros de desnível e – o que mais temo – 46 horas de tempo limite.
Não sei se será possível terminar, mas tenho treinado a sério, e vou fazer o melhor que posso. Às 18 horas do dia 26 – 13 no horário do Brasil – vai começar o desafio. Há melhor forma de comemorar meus dez anos de vida? Venha o que vier, com certeza vou lembrar de todos você quando estiver correndo – ou melhor, me arrastando – pela França, Itália e Suíça. Se tudo der certo, vai ser maravilhoso. Se não der... Bem, torçam por mim. E obrigado por terem tornado a minha vida em algo tão divertido. Esta prova – complete eu ou não – eu dedico a todos vocês. Saúde, irmãos.


2 comentários:

  1. Paulo,
    Vamos nessa juntos... Vamos completar esse desafio com muita paciência e determinação... Grande Abraço!
    AP

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  2. Se precisar de um pacer me liga! eu dou um pulinho por lá!
    Abraço

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