Há dez anos, numa manhã de outubro, estava no meio de uma pequena multidão. Não, eu não tinha ideia do que ia acontecer. Depois de terminar 30 anos de convivência com o tabaco – uns vinte deles fumando dois maços de cigarros por dia – esperava o começo do que deveria ser a minha tentativa de virar corredor. Já fazia natação, em que sou péssimo ainda hoje, e musculação, que é chato mas necessário. Como poderia saber que ia encontrar um Paulo que nem sabia que existia?
Naquela manhã minha vida começaria a mudar de forma irremediável. Fiz, com paciência e coragem, a Volta da Pampulha, depois de uns dois meses de treino em que comecei mais andando que correndo. Durante a prova eu - que os amigos sabem, “adoro” alongamento – corria 15 minutos e parava para me alongar. Terminei os 18 km em 2h e 20 minutos. Não sei em que momento senti aquela euforia que ainda me acompanha em varias provas, ou quando comecei a me controlar para não chorar. Só sei que quando terminei a prova um outro Paulo tinha nascido. Um que foi batizado, muito depois, de Pul, num dia em que a Dira me chamou de “Paulo, o ultra ligeirinho”. Foi depois das minhas primeiras 24 horas, em que eu estava em êxtase: não podia acreditar que tinha feito mais de 150 km...
Não, eu não sou ligeirinho. Quando eu nasci, naquela Volta da Pampulha, um anjo danado, o chato de um querubim, disse que eu estava predestinado a ser lento assim. Desde o começo a minha falta de velocidade foi marcante. Mas devagar e pacientemente eu fui juntando conquistas: estreia em duas maratonas – a de Verona e de Viena – em dois fins de semana seguidos, cinco maratonas em dois meses em 2004, a CCC em 2009, mais de 1000 km corridos em provas no ano passado – que começou com a BR135. Claro, muitas provas eu não consegui terminar, principalmente por causa do tempo limite. Mas isso faz parte da vida, é preciso testar os limites...
Neste ano completei algumas, entre elas a Comrades, que corri com a Hedy. Prova maravilhosa e – perdoem-me os que pensam diferente– fácil e divertida. Pouco mais de 80 km em 12 horas, com aquela multidão o tempo todo dando apoio, é muito bom.
Agora acabou a brincadeira. Em quinze dias vou enfrentar a prova mais difícil da minha jovem carreira. O Ultra lentinho vai pela segunda vez enfrentar os Alpes franceses. Da primeira, há dois anos, foi a CCC. Agora é o monstro inteiro: o Ultra Tour de Mont Blanc, com os seus 166 km, mais de 9 mil metros de desnível e – o que mais temo – 46 horas de tempo limite.
Não sei se será possível terminar, mas tenho treinado a sério, e vou fazer o melhor que posso. Às 18 horas do dia 26 – 13 no horário do Brasil – vai começar o desafio. Há melhor forma de comemorar meus dez anos de vida? Venha o que vier, com certeza vou lembrar de todos você quando estiver correndo – ou melhor, me arrastando – pela França, Itália e Suíça. Se tudo der certo, vai ser maravilhoso. Se não der... Bem, torçam por mim. E obrigado por terem tornado a minha vida em algo tão divertido. Esta prova – complete eu ou não – eu dedico a todos vocês. Saúde, irmãos.
Paulo,
ResponderExcluirVamos nessa juntos... Vamos completar esse desafio com muita paciência e determinação... Grande Abraço!
AP
Se precisar de um pacer me liga! eu dou um pulinho por lá!
ResponderExcluirAbraço